O país está tão mal que sujeitámo-nos a tudo. Eis o exemplo de algo que fiz para ganhar dois míseros bilhetes para o teatro. Mais acrescento que o esforço valeu bem a pena. Foi a peça mais divertida que assisti (também não foram muitas). Mas foi rir a bom rir até produzir algo líquido (estou a brincar). Claro que é preciso cuidado. Se necessário, levem uma fralda.
O passatempo consistia em dizer porque razão merecíamos o prémio. Eis a minha justificação:
Eu mereço ir porque:
1º- não sei fazer rimas, logo não utilizo o estratagema de fazer rimas para ganhar. É só olhar para os passatempos que por aí fazem. É só rimas nas frases vencedoras.
2º- arrisquei a vida para ver esta peça e não consegui vê-la. Agora vão pensar que estou a brincar. Mas não, não estou. Na 5ª feira passada, saí de casa com o intuito de ver a peça. Acabei por ficar bloqueado dentro de um dos maiores túneis da ilha com um carro em chamas. Conclusão: quando lá cheguei, a peça já tinha começado. E eu só vejo as coisas do início. Apanhar as coisas a meio, não tem piada. Se isto não é arriscar o próprio pescoço, então não sei o que é.
3º- Vocês precisam de alguém no público que seja mais estúpido do que vocês. E eu tenho esse perfil. Tenho um sentido de humor apuradíssimo (ninguém me gaba, por isso tenho que me gabar a mim próprio).
Podia arranjar mais meia dúzia de razões, mas ficava enfadonho. Depois ainda deixavam metade para ler e lá ia o meu trabalho pela água abaixo. Portanto, estas devem chegar.
Agora digam lá que não tenho uma imaginação fértil. Também é verdade que as circunstâncias levaram-me a estes factos, pois tudo o que escrevi é verídico.