Neste último ano, aprendi muito. É natural, estou num curso profissional de Informática, logo aprendi imenso. Mas não é desse tipo de aprendizagem que vos quero falar.
Na carrinha que eu vou todos os dias para o Funchal, também vão outros deficientes. Entre eles está um miúdo muito especial. Chama-se Flávio e tem cerca de 12 anos.
Até há uns tempos atrás, apesar de ser deficiente também, nunca me interessei muito pela forma como um cego (acho melhor cego que invisual) podia ver o mundo. Mas depois de entrar na carrinha e olhar para o Flávio, começou a saltar-me para o consciente esta simples pergunta: Como vê o cego o mundo que o rodeia? A resposta é simples e talvez confusa. Vê-o da mesma maneira que nós.
Apercebi-me disso rapidamente. O Flávio ao chegar à sua escola e sem ninguém lhe pedir, tirava o cinto de segurança.
Antes de chegar ao seu ponto de saída em casa, volta a tirar o cinto. Alguém não aguentou a curiosidade e perguntou-lhe como é que ele sabia que estava na hora de sair. A resposta foi simples:"Esta é a última curva". Pode não ter matado a curiosidade de quem perguntou, mas pelo menos surpreendeu.
Outra situação é o caso de um outro miúdo que também vai na carrinha, um certo dia estava inquieto e sempre a fazer barulho. O Flávio com toda a normalidade do mundo, disse: "Vira-te para a frente e cala-te". A verdade é só uma: realmente o miúdo estava voltado para trás. Como sabia o Flávio que o outro miúdo estava voltado para trás?
Ele também sabe a exacta localização do local onde está. Até é capaz de dizer por telemóvel ao pai.
É impressionante a visão do Flávio. A mim só me surpreende. E a vocês?