Era uma vez... Geralmente, começam assim as histórias de príncipes e princesas. E viveram felizes para sempre, é sempre o seu final.
Bem, esta história, pode começar da forma tradicional… já o final tem um pequeno reparo, “estão felizes, por agora”.
Era uma vez uma Bruxinha loura, com ar angelical, inocente e frágil, mas muito doce. No entanto, apesar do seu ar celestial, a Bruxinha era uma pequena rebelde, aventureira, mas que geralmente, acabava por se magoar.
E um Feiticeiro, com uma timidez que o fazia esconder-se de tudo, morrendo de vergonha de todos. A sua condição física era um grande obstáculo, porém os seus complexos causavam-lhe embaraços ainda maiores. Era muito fechado, só dava confiança a quem conhecia, realmente. E foi com estas personalidades, com pouco em comum, que se conheceram e construíram uma grande amizade… que, afinal, era mais que isso.
Aproximaram-se e conheceram-se num ambiente escolar muito propício a romances, mas que para eles dois não era, nem por sombras, para tal. Eram apenas confidentes, ou seja, o Feiticeiro ouvia as histórias de amores e desamores mal sucedidos da Bruxinha. E foi aí, que algo, estranhamente, bateu. O confidente já não era apenas um ouvinte, tinha-se apaixonado pela Bruxinha. Mas continuava a sua missão sem nunca falar sobre o que sentia. Os seus complexos impediam-no. Apesar de ser adolescente, ele tinha consciência que estar numa cadeira de rodas não era, nem de longe e nem de perto, o protótipo de rapaz ideal. Deixou o destino seguir o seu rumo, engoliu muitas vezes em seco, mas continuo a sua incumbência. Muitas vezes, custou-lhe ouvir certas coisas, mas aguentava sem dar parte de fraco.
Até ao dia em que a Bruxinha, no meio de mais uma desilusão e lágrimas nos olhos, disse-lhe que estava a gostar dele. O Feiticeiro tremeu como nunca tinha tremido, sentiu o coração disparar. Porém, em vez de aproveitar a oportunidade e dizer o que lhe ia na alma, calou-se e só queria fugir. Apesar de ter mexido com o seu mundo, ele desvalorizou o episódio, pois era no meio de mais uma desilusão.
Nos tempos seguintes, aquela expressão não lhe saía da cabeça, o seu coração disparava sempre que a via, mas a boca não se abria. Para complementar esta panóplia de sentimentos, num certo dia, num dos vários intervalos entre aulas, alguém lhe dedicou uma música na rádio escolar. Quem teria sido? Ele só pensava nela, mas nunca pensou que ela pensasse nele, a ponto de fazer tal coisa. Ele tentou descobrir quem lhe fez tal dedicatória… mas sem êxito.
O Feiticeiro procurava-a discretamente com o olhar no meio da multidão de alunos. Só precisa de a ver para se sentir bem. Apenas ia pensando naquilo e no peso que carregava. Ainda para mais, o ano lectivo corria mal, ele tinha a cabeça cheia de problemas e não precisava de mais nada para ocupar-lhe a mente. Mas a verdade é que aquela paixão foi profunda. A partir daí, ele só queria estar com ela, apesar de saber que os horários podiam não ser compatíveis, nos anos seguintes… como não foram. Resultado da incompatibilidade, foi que um dos últimos encontros deu-se no centro de urgência, no dia 24 de Agosto de 1996, com o Feiticeiro a caminho do hospital. No meio do infortúnio, ele teve aquele pequeno momento de alegria. Viu-a por breves momentos que guardou na memória. A partir daí, seguiram rumos diferentes.
No ano lectivo seguinte, raramente se encontraram e a Bruxinha esfumou-se no ar. Parecia que tinha acabado uma história de paixão platónica que nunca foi concretizada. Puro engano!
O mundo avançou, a tecnologia modernizou-se e apareceram as redes sociais. E foi aí que esta história ganhou um novo fôlego. O Feiticeiro, que nunca a esqueceu, viu neste instrumento, uma maneira de a encontrar, mesmo sendo a hipótese muito remota. Procurou-a, mesmo não fazendo ideia se seria recompensado.
Até ao dia, em que encontrou um grupo de alunos da sua antiga escola. Não tinha nada a perder, mesmo sabendo que pouco podia ganhar. Deixou uma mensagem, perguntando se havia alunos da sua época no grupo. Alguns responderam, mas nenhum era quem realmente queria encontrar. Mas uma das pessoas que respondeu, adicionou-o como amigo. O Feiticeiro, no meio da conversa, perguntou-lhe se conhecia a Bruxinha. Ela apenas respondeu mostrando fotos e perguntou se a reconhecia. Ele não queria acreditar, tinha encontrado quem tanto procurou. O seu coração disparou de tanta felicidade. Agora só tinha de a encontrar na rede social. Não era tarefa fácil, mas a sorte protege os audazes e ele encontrou-a, através de um comentário. Adicionou-a, agora só tinha que esperar… E esperou pouco tempo. Ele meteu logo conversa, perguntando se ela se lembrava dele. A resposta foi o início de algo mais que nem o Feiticeiro se apercebeu, “como é que eu não me ia lembrar de ti?”, respondeu ela. Estava implícito que a química estava ali, mas ele não enxergou… ou não quis acreditar no que leu. Quanto a ela, ficou com um sorriso de orelha a orelha, impossível de disfarçar. Era tão visível que alguém lhe perguntou se era, realmente, apenas um amigo.
Continuaram a falar, como se tivessem contato regular. Parecia que o tempo não tinha passado, as conversas fluíam sem terem que falar do tempo (é o que acontece quando não há assunto). Falavam dos tempos de escola e foi aí que o Feiticeiro, finalmente, falou sobre o que sentiu e descobriu que o sentimento era mútuo. Também ficou a saber (com mais de 20 anos de atraso) que a sua Bruxinha tinha sido a autora da dedicatória musical. Estava desfeito o mistério!
Mas continuaram a falar e a aproximação tornou-se cada vez mais evidente, mesmo estando longe um do outro. Ela despedia-se dizendo “Amo-te”, argumentando que os amigos também se despediam assim. O Feiticeiro achava estranho, mas como os países em que viviam eram diferentes, o argumento até era válido… ou talvez não!
Até ao dia, em que sendo ela apaixonada por música, apresentou um tema ao Feiticeiro, aconselhando-o a ouvir a letra com atenção. A Bruxinha dizia que retratava na perfeição as suas histórias. Ele ouviu-a e tremeu, pois era muita coincidência. A faixa musical era um retrato muito fiel da relação entre os dois. E aí, deu-se o clique! A Bruxinha disse que nunca tinha esquecido o Feiticeiro e sentia algo mais que amizade. Novamente, ele tremeu mas, ao contrário da primeira vez, abriu o seu coração. Aquilo que sempre sentiu estava de volta. Era um assunto mal resolvido na cabeça dele e revelou que também gostava dela. Não queria e nem podia deixar fugir a oportunidade. É verdade que as circunstâncias eram outras, mas o que era uma paixão adolescente tinha-se transformado em amor.
Mesmo longe e com muitos obstáculos, fizeram juras de amor eternas. O Feiticeiro, incrédulo, estava a cair em si e percebeu, finalmente, que não era apenas um sonho. Aprendeu que a expressão “nunca digas nunca” ganhou um novo significado e a relação deles tornou-se inabalável, mesmo sendo algo muito difícil de concretizar. Prometeram encontrar-se em breve, no dia 24 de Agosto de 2019, exatamente 23 anos depois de um dos últimos encontros. Será que irá fortalecer a relação? Eles acreditam que sim, mesmo com muitos obstáculos pelo meio.
Parece uma novela qualquer mas é bem real. A Bruxinha e o Feiticeiro vivem um conto de fadas mesmo estando longe, mas acreditam que a sua história irá ter um final feliz… um dia!
“NUNCA DIGAS NUNCA”